quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Não há mais nada

Piedade e medo são o homem. Não há mais nada. - Diz Prometeu a Héracles.
Diz Cesare Pavese, em Diálogos com Leucó. 
Sonhei um sonho muito maior. Sonhei o ardor do tango. A dignidade das espadas. A rosa cuspida de encontro ao chão de pedra antiga. A determinação de quem se salva do destino. 
Sonhei a coragem do tigre que encara a sua sombra. 
Mas não há mais nada. 
Apenas a desproporcional combinação de piedade e de medo que, afinal, diz o deus, compõe o homem. 

4 comentários:

  1. A piedade que é ensinada não poderá ser o par do medo que serve, reforçado, para nos escravizar. Esperança, Pirata, esse é o antídoto do medo que desagrilhoa o mundo. Mas nem todos os escravos gostam de subitamente se ver sem grilhões e o desânimo mascarado de aceitação é a tarimba onde sonham.

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    1. Não sabem viver na liberdade. É essa a tragédia dos escravos. Aceitam a esperança mas não a liberdade.
      Tinha saudades do meu anónimo mauzão. Sabe que nesta casa, tasco vá, é um VIP!

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  2. Por causa desse "não sabem viver na liberdade" lembrei-me de um trecho de João Alves da Costa onde relata um incidente que terá decorrido nas Barbados. Após a abolição da escravatura, esse Lord inglês terá dirigido algumas palavras aos seus escravos antes de os libertar e mandar embora. Os escravos, confusos, indignados e amedrontados com a súbita perspectiva da liberdade, revoltaram-se e mataram o seu Lord.

    Após isto, voltaram às celas e agrilhoaram-se.

    A liberdade não é para todos mas deve haver escolha e consenso. Que exista espaço no mundo para quem quiser ser livre não ser escravo, e para quem escravo deseja ser não viva condenado à liberdade.

    Fiz-lhe uma vénia por esse cumprimento elogioso, apesar de nunca a conseguir ver. Obrigado por me receber no tasco, desculpe, barco Pirata. Quem me dera ter um tasco onde ir que se parecesse com um navio Pirata e zarpasse para onde fosse.

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