quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A equação do amor

Há entre as pessoas que se amam uma estranha forma de pudor que as impede de compartilhar todo um mundo de convicções íntimas.
Os mais distraídos poderão certificar a circunstância qualificativa do sentimento através do instante em que entre os seus pensamentos e a expressão dos mesmos se ergue um inusitado muro de betão que no dia anterior, podiam jurá-lo, não estava ali. 
Num fim de tarde de sábado, sentaram-se num banco em frente ao mar. Compartilhavam o desdém pelo amor, mas já o escondiam um do outro o melhor que sabiam. Ali sentados, tentaram encontrar uma solução para o problema do amor, como quem resolve um inútil enigma antigo. 
Na direção da praia passavam casais de mãos dadas; famílias com crianças pelas mãos; pessoas sozinhas que procuravam no mar a distração de um sábado de início de verão. 
Caiu a noite sobre aquele banco em frente ao mar.
Nessa e nas mil e uma noites que se seguiram não conseguiram solucionar a equação do amor. 
De certa forma, nunca saíram daquele banco, sentados lado a lado, desviando o rosto para melhor esconderem tanto o amor, como o desdém pelo amor, incapazes de solucionar a equação e cegos à vida que, desfilando na sua frente, lhes certificava um resultado que não saberiam reconhecer.

16 comentários:

  1. Naquele banco que configurava o seu universo, essa era, para eles, uma equação impossível.

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    1. A matemática, infelizmente, não ensina que não se pode resolver tudo.

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  2. Essa parece mais a equação do medo. Nunca seria possível entre jovens que generosamente se entregariam na única coisa válida no amor, que é praticar, praticar muito. Com as quedas vem o medo, e a equação fica assim, asséptica como uma coisa de resolução impossível. Mas, se calhar, aí nesse banco, era preciso que um deles, o x ou o y, tanto faz, fosse optimista. Segundo parece só os optimistas se suicidam. :)

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    1. Fiquei a pensar nessa última frase. Porque será? Pela desilusão? Ou é assim do género estudo australiano?

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    2. Que eu saiba não é nenhum estudo "desses". :) Os optimistas acreditam e lutam por causas, e claro que se decepcionam muito mais que os pessimistas que em nada acreditam, portanto para eles corre sempre mal, muitas vezes porque nem tentam. Não me lembro onde, mas já li várias alusões a isso. E tem lógica, isso tem. Se encontrar, volto cá.:)

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    3. "Só se suicidam os optimistas, os optimistas que deixaram de poder sê-lo. Os outros, não tendo nenhuma razão para viver, por que a teriam para morrer?"
      Cioran/ O circo da solidão

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    4. Creio que o Cioran, a partir de determinada altura, sentiu a necessidade de explicar porque não se suicidava :)))
      De qualquer forma acho a teoria muito interessante. Já estou a estudar o assunto.

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    5. É verdade:"O desejo de morrer foi a minha única e exclusiva preocupação; sacrifiquei-lhe tudo, até a morte."
      :)

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  3. desculpe a intromissão capitã, mas temos vaca à vista com rede fraca...

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    1. Estou aqui a tentar decifrar esse enigma mas a coisa não está a correr bem...
      Estamos a ser novamente atacados? Está alguma coisa a arder?

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    2. Atacados nã diria, apenas provocados... http://notasdecha.blogspot.pt/2016/02/pose-para-r-e-d-e-social.html

      eu nã estive aqui...

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    3. Vamos recuperar a nossa MUMU, cigano dos mares. Isto é uma afronta. Um incidente diplomático ao mais alto nível. Vou já mandar o Adhriminir ao Aki comprar uns alicates.

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    4. (Guardarei com a vida a tua identidade de agente infiltrado. Ninguém saberá que foste tu quem descobriu a MUMU)

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    5. muito lhe agradeço estimada e honrada Capitã Cuca, a Invencível, no entanto acabei de declarar ser-lhe fiel, mais tarde ou mais cedo vão perceber que fui eu... tomara nã me fritem os tentáculos...

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  4. Interessante esse texto, meus parabéns.

    Arthur Claro
    http://www.arthur-claro.blogspot.com

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