domingo, 9 de janeiro de 2011

Não olhes para mim dessa maneira

Bem sei o que dirias se não te tivesse calado. Lembro-me da arrogância com que apregoavas que o destino é o pretexto dos fracos. Que a vida é um mapa para se traçar a régua e esquadro e com sublinhados cor-de-rosa a realçar o plano afectivo. Lembro-me da implacabilidade com que corrigiste todos os desvios. Dos castigos auto-infligidos nas falhas descobertas no processo de construção da personalidade. Da tua eficácia de bulldozer a consumires os russos e os franceses com uma determinação autodidacta. Do verão longínquo em te proibiste a televisão, substituindo-a pelos poetas. Lembro-me de ti, demasiado ocupada a traçar a próxima meta para festejares o romper da última. Bem sei que neste estabelecimento comercial que é a vida serias capaz de te ter despedido a ti própria de gerência se tivesses descoberto os cofres neste estado. Foi para não ter que te ouvir que despachei pela conduta do lixo os dez cadernos de argolas que encheste com recados para ti própria. E todas as cartas que sobraram do teu reinado de sensatez. Não sei o que andaste a fazer nos últimos 15 anos. Mas é bom que percebas que enquanto dormias aconteceu-te a vida e com ela cheguei eu. There´s a new kid in town, miúda.
Por isso, não olhes para mim dessa maneira.

3 comentários:

  1. gosto mais de metamorfoses de combustão rápida. não aleija tanto.

    http://www.youtube.com/watch?v=8gHZU09mvjc

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  2. esta metamorfose também não está nada má:

    http://www.youtube.com/watch?v=Bam1cBQ2jlQ&feature=related

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