quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Só compro viagens no tempo se o destino for o futuro

Eu não gosto de nostalgia de nenhuma espécie.
Em particular, incomoda-me aquela que se insinua pelas frestas das janelas fechadas quando reencontramos alguém que fez parte da nossa vida há muitos anos atrás. Acredito que o passado, uma vez consolidado nessa dimensão temporal, não deve fazer parte do futuro sob pena de nos transtornar o presente.
A minha ideia de um bom pesadelo é aquele filme do Nicolas Cage, que acho que se chama Family Man, em que um broker da Wall Street acorda no meio da vida que teria se tivesse ficado com a sua ex-namorada suburbana.
Coerentemente, também detesto descobrir peças de roupa esquecidas que um dia gostei de usar e que, por alguma razão, decidi deixar para trás.
Num caso e noutro, porque a vida não é assim tão diferente de um roupeiro, houve uma razão concreta para o abandono. A distância temporal pode ter um efeito atenuador sobre as motivações. Mas nós sabemos que elas existiram, embora possamos até não nos lembrar quais foram.
O borboto, a malha puxada, o tecido que pica, as cavas apertadas, aquela estranha prega assimétrica ou a eterna impossibilidade de combinação com o nosso estado espírito continuam lá. Só estão à espera da altura mais inoportuna possível para se revelarem. Com a agravante da redobrada sensação de desconsolo que acompanha o vício de se ter sempre razão.
Também não gosto de saldos. Mas isso já são indefensáveis manias de superioridade.

4 comentários:

  1. "Eu não gosto de nostalgia de nenhuma espécie."

    Ninguém diria.

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  2. O que não quer dizer que não sofra dela...

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  3. Eu acho que devemos aprender com o passado. Todas as experiências são boas, até as más experiências

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