Depois de anos de sofrimento silencioso a tentar resolver os problemas das pessoas que se lamentam, tive uma epifania determinada por um raro momento de inteligência, durante a qual percebi que, com elevado grau de probabilidade estatística, se eu própria me passasse a lamentar também teria em meu redor silenciosos sofredores ocupados a tentar resolver os meus problemas.
Um segundo depois do meu momento Eureka comecei a queixar-me tanto quanto possível a todas as pessoas que encontro pela frente. E foi no decurso de uma dessas sessões de lamentação, e subsequente onda de solidariedade forçada que infalivelmente desencadeiam, que me revelaram a identidade de um russo capaz de pôr um fim aos meus mais recentes tormentos quotidianos.
Devo aqui admitir que comecei por oferecer alguma resistência à ideia de um soviético nunca visto, sozinho em casa comigo, dentro do meu quarto a arrancar-me os lençóis da cama e a mexer na minha roupa interior. E se acabei por me conformar com tal ideia, foi menos por intervenção da natureza excêntrica de que injustamente me acusam e mais por a urgência de resolver um problema prático não se compadecer com preconceitos de género e xenofobias diversas.
Esta manhã chegou o russo.
Pelas minhas fantasias domésticas já tinham passado mainatos africanos vestidos de branco, em estilo África Minha mas tamanho pigmeu, e asiáticos de quimono prateado num misto samurai e gueixa, também em versão anã. Como nunca tinha imaginado um russo a desempenhar estas funções, não tive tempo para lhe fantasiar nem uma altura nem um outfit. Não fiquei especialmente surpreendida quando o russo me apareceu em casa, grande e de fato-macaco caqui.
O russo começou por me grunhir um bom dia; vistoriar os produtos de limpeza e desdenhar do meu aspirador pouco bélico.
Meia hora depois, quando tive coragem para sair da casa de banho, encontrei os vidros desmontados, os móveis deslocados dos sítios, os livros no chão da sala e a minha roupa espalhada pela cama. À beira do colapso nervoso, mas incapaz de protestar com medo que o russo me assassinasse a tiro, optei por fugir de casa.
Seis horas e muita coragem mais tarde fui obrigada a regressar a casa. A máquina soviética de guerra tinha lavado vidros e paredes, exterminado o pó, desfeito a gordura do forno e assassinado o caos.
Fui dar com o russo a engomar uma camisa de seda com a mesma expressão de gelo e eficiência com que os soldados do exército montavam kalashnikovs.
Olhou para mim como se eu fosse uma mosca e não disse uma palavra.
Obviamente, contratei-o logo.
Um segundo depois do meu momento Eureka comecei a queixar-me tanto quanto possível a todas as pessoas que encontro pela frente. E foi no decurso de uma dessas sessões de lamentação, e subsequente onda de solidariedade forçada que infalivelmente desencadeiam, que me revelaram a identidade de um russo capaz de pôr um fim aos meus mais recentes tormentos quotidianos.
Devo aqui admitir que comecei por oferecer alguma resistência à ideia de um soviético nunca visto, sozinho em casa comigo, dentro do meu quarto a arrancar-me os lençóis da cama e a mexer na minha roupa interior. E se acabei por me conformar com tal ideia, foi menos por intervenção da natureza excêntrica de que injustamente me acusam e mais por a urgência de resolver um problema prático não se compadecer com preconceitos de género e xenofobias diversas.
Esta manhã chegou o russo.
Pelas minhas fantasias domésticas já tinham passado mainatos africanos vestidos de branco, em estilo África Minha mas tamanho pigmeu, e asiáticos de quimono prateado num misto samurai e gueixa, também em versão anã. Como nunca tinha imaginado um russo a desempenhar estas funções, não tive tempo para lhe fantasiar nem uma altura nem um outfit. Não fiquei especialmente surpreendida quando o russo me apareceu em casa, grande e de fato-macaco caqui.
O russo começou por me grunhir um bom dia; vistoriar os produtos de limpeza e desdenhar do meu aspirador pouco bélico.
Meia hora depois, quando tive coragem para sair da casa de banho, encontrei os vidros desmontados, os móveis deslocados dos sítios, os livros no chão da sala e a minha roupa espalhada pela cama. À beira do colapso nervoso, mas incapaz de protestar com medo que o russo me assassinasse a tiro, optei por fugir de casa.
Seis horas e muita coragem mais tarde fui obrigada a regressar a casa. A máquina soviética de guerra tinha lavado vidros e paredes, exterminado o pó, desfeito a gordura do forno e assassinado o caos.
Fui dar com o russo a engomar uma camisa de seda com a mesma expressão de gelo e eficiência com que os soldados do exército montavam kalashnikovs.
Olhou para mim como se eu fosse uma mosca e não disse uma palavra.
Obviamente, contratei-o logo.
Rossiya: Hoje comecei trabalho. Estive casa porca. Senhora preguiçosa, como todas os portugueses. Olhar para mim com espanta nos olhos e eu fazer cara de um simpático. Ela ficar ainda mais assustada, como se eu quer esmagar ela como um mosca. Ela ter medo. Ela contratar Rossiya. Portugueses malucos.
ResponderEliminarIrina: Portugueses malucos.
ahahahahahha! Noodles, sei que não vai acreditar, mas o meu russo é casado com uma... IRINA. ahahahaah
ResponderEliminarEstive entre essa, uma Svetlana e uma Ekaterina. São clássicos.
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