Sabes que falhaste quando, já depois de três quartos do teu dia consumidos, precisas que seja o alarme de um telemóvel a lembrar-te que é dia de aniversário de dois, o mais novo e o mais velho, dos teus familiares mais próximos.
Sabes que falhaste quando ao invés de te fazer cobrir de vergonha, o som te leva a abrir a agenda e iniciar uma forçada fórmula matemática de pesagem de valores, sem que te dês conta que os membros da equação são de grandezas demasiado distintas, para que sequer os possas juntar.
Sabes que falhaste quando a exaustão separa o teu cérebro da tua alma e constatas que os únicos papéis que querias continuar a ver desembrulhados são aqueles que estão em cima da secretária.
Sabes que falhaste quando percebes que já não vais ter tempo para comprar um presente e consideras a possibilidade de entregar dinheiro a uma criança e dás por ti a pensar qual a quantia adequada a indemnizá-la de tamanha negligência.
Sabes que falhaste quando desligas o telemóvel por não teres condições mentais que te permitam suportar a desilusão diante da dimensão real do teu atraso.
Mas depois, quando finalmente te arrastas para fora do teu gabinete e apagas a luz, os volumes no escuro perdem os nomes, passam a ser apenas papéis e num rápido processo de abstracção ganham a irrelevância de quem estará lá para sempre. Entras no carro e parece que pela primeira vez em muitos dias parou de chover. E num insólito cósmico atravessas em meia hora a distância até à cidade e a cidade inteira da ponta Sul à ponta Norte. E o Puccini no carro dá-ta uma dimensão épica onde encontras a coragem para entrares num centro comercial à procura de um presente. E há um lugar de estacionamento colado ao elevador. E sais no terceiro piso e encontras imediatamente o presente perfeito para o mais novo. E o mais velho que espere mais um dia pelo presente que a idade ensina a gerir as frustrações. E consegues chegar antes que todos se sentem à mesa. E quando te abrem a porta cheira a bolos. E o mais velho ensaia acordes numa guitarra enquanto o mais novo se esconde atrás da porta para te saltar para as costas e se agarrar ao teu pescoço com os seus braços minúsculos.
E em vez de volumes de vidas abstractas empilhadas no escuro há uma vida concreta iluminada pelo barulho de uma mesa enorme e indisciplinada e de gente que se toca entre si.
Sabes que falhaste quando ao invés de te fazer cobrir de vergonha, o som te leva a abrir a agenda e iniciar uma forçada fórmula matemática de pesagem de valores, sem que te dês conta que os membros da equação são de grandezas demasiado distintas, para que sequer os possas juntar.
Sabes que falhaste quando a exaustão separa o teu cérebro da tua alma e constatas que os únicos papéis que querias continuar a ver desembrulhados são aqueles que estão em cima da secretária.
Sabes que falhaste quando percebes que já não vais ter tempo para comprar um presente e consideras a possibilidade de entregar dinheiro a uma criança e dás por ti a pensar qual a quantia adequada a indemnizá-la de tamanha negligência.
Sabes que falhaste quando desligas o telemóvel por não teres condições mentais que te permitam suportar a desilusão diante da dimensão real do teu atraso.
Mas depois, quando finalmente te arrastas para fora do teu gabinete e apagas a luz, os volumes no escuro perdem os nomes, passam a ser apenas papéis e num rápido processo de abstracção ganham a irrelevância de quem estará lá para sempre. Entras no carro e parece que pela primeira vez em muitos dias parou de chover. E num insólito cósmico atravessas em meia hora a distância até à cidade e a cidade inteira da ponta Sul à ponta Norte. E o Puccini no carro dá-ta uma dimensão épica onde encontras a coragem para entrares num centro comercial à procura de um presente. E há um lugar de estacionamento colado ao elevador. E sais no terceiro piso e encontras imediatamente o presente perfeito para o mais novo. E o mais velho que espere mais um dia pelo presente que a idade ensina a gerir as frustrações. E consegues chegar antes que todos se sentem à mesa. E quando te abrem a porta cheira a bolos. E o mais velho ensaia acordes numa guitarra enquanto o mais novo se esconde atrás da porta para te saltar para as costas e se agarrar ao teu pescoço com os seus braços minúsculos.
E em vez de volumes de vidas abstractas empilhadas no escuro há uma vida concreta iluminada pelo barulho de uma mesa enorme e indisciplinada e de gente que se toca entre si.
E enquanto cantam os parabéns aos dois percebes que estás a chorar e que alguém que percebeu que estavas a chorar pelos motivos errados apagou as luzes para que mais ninguém saiba que falhaste tanto.
Este ano "falhaste" menos do que no ano passado... Continua a "falhar" assim...
ResponderEliminarQuerida Gi, nada como amigos com boa memória para manter a culpa na perspectiva correcta.
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