terça-feira, 11 de janeiro de 2011

furtos literários

Para acabar a parábola, porque tu tens o dom de me interromper e desviar os meus pensamentos, quero dizer que, de certo modo, também me encontro dividida entre três torturas íntimas, a principal das quais é a ambição, claro. Sei que nunca serei bióloga; a minha paixão pelos seres rastejantes é grande, mas não absoluta, consumidora. Sei que adorarei sempre orquídeas, cogumelos e violetas e que continuarás a ver-me sair sozinha, para vaguear sozinha pelos bosques e regressar sozinha com um liriozinho solitário; mas as flores, por muito irresistíveis que sejam, também terão de ser abandonadas, assim que tiver força suficiente para isso. Resta a grande ambição e o maior terror: o sonho das escaladas dramáticas mais azuis, mais remotas, mais difíceis…o pavor de acabar provavelmente como uma de um cento de solteironas, a ensinar estudantes de teatro, a saber que, como tu insistes, sinistro insist(id)or, não podemos casar e a ter sempre diante de mim o terrível exemplo da patética e corajosa Marina, de segunda categoria.

Vladimir Nabokov, In Ada ou Ardor, teorema

4 comentários:

  1. Fui sempre um orador desgraçado. O meu vocabulário habita nas
    profundezas do meu espírito e precisa do papel para se soltar e ascender à zona física. Para mim, a eloquência espontânea parece um milagre. Reescrevi várias vezes, com muita frequência, todas as palavras que publiquei. Os meus lápis duram mais que as respectivas
    borrachas.
    Opiniões fortes, Nabokov
    (e já leu O Dom? Fabuloso!)
    Maria Helena

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  2. Maria Helena, infelizmente ainda não li. Mas está na lista de 2011.

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  3. este livrinho já aparecia aí numa livraria qualquer...

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