Quando me perguntou se era feliz, por vergonha, embaraço ou piedade, menti muito e sem culpa.
Trago as asas enfaixadas sob a camisa de seda de alta costura e doem-me nas articulações da cobardia. Às vezes, uma ou outra pena escorrega-me pela manga e assoma à linha dos pulsos. Já fui obrigada a engoli-las, entre duas colheradas de sopa fria, para não incomodar os comensais dos restaurantes de luxo onde ele me senta à força. Os porteiros fingem não ver a corcunda de asas dobradas e à saída, grata, pago-lhes em lágrimas de prata a discrição profissional.
Quando os dias têm mais horas e a noite me parece mais escura, solto as fitas das costelas e passeio-me na sala, nua, de asas abertas. Ele desvia o olhar e comenta a deformidade da sombra na parede como se de uma ilusão de ótica se tratasse. Finjo que sim. Os espelhos, voltei-os ao contrário para que não me traíssem.
Mas hoje, por descuido, alguém deixou aberta a porta da varanda.
As minhas mãos já alisam o frio da noite e os pés procuram o ponto de equilíbrio do salto. As asas, soltas, soltas, soltas, fizeram-se para voar.
é notório que a chuva já se foi embora :)
ResponderEliminarpois foi.
EliminarMas conto sempre com o Mau-tempo!
:)