Veio o Sirocco encerrar o verão. Os panos dos toldos ainda se debatem na praia, fazendo chiar lamentos que se elevam e se perdem no areal. Serão engolidos pelo mar que tudo leva consigo quando o vento dos doidos e a lua cheia ousam sobrepor-se. Os restos do verão voam, já enlouquecidos, pelas ruas. Cinzeiros de plástico em forma de corneto, a sandália perdida da criança, a concha que o búzio abandonou, as penas roubadas às gaivotas, sacos de um minimercado local, o pequeno papel onde um homem anotou um número essencial, a metade da nota que dois desconhecidos dividiram num bar próximo, a página arrancada do livro que salvou uma vida.
São os objetos os primeiros a render-se a um destino que também é dos homens.
Logo à noite estaremos uma outra vez todos loucos.
Sabem-no aqueles que apressadamente tentam escapar nas suas carrinhas familiares carregadas até ao tejadilho.
Sabemo-lo nós que não temos para onde ir.
Esta noite, mulheres descalças e de camisa de dormir, dançarão a sua loucura desgrenhada entre as ondas da praia.
Homens desnudos miarão nos beirais dos telhados numa luta animal por um amor que não veio.
Amanhã acordaremos todos no outono. Areia entre os dentes. Os picos dos cactos nos joelhos. Feridas salgadas.
Foi falso alarme. Ao segundo dia virou Norte. Um Sueste que se preze dura pelo menos três dias :)
ResponderEliminarQueres com isso dizer que já não posso ir para a praia descalça e de camisa dormir durante a noite???
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