Deu-lhe razão, o tempo.
Afundaram-se-lhe as linhas do rosto. Desvaneceram-se os contornos da boca. O cabelo rareia e o olhar embaciou-se. A pose perdeu a altivez. A expressão é a de uma desorientada senilidade precoce.
Afigura-se-me evidente que uma bruxa apropriou-se da ampulheta estagnada e pelo vidro correm agora velozes as purpurinas lunares.
Dizem-me que fui eu a autora do feitiço da cruel reposição do tempo. Não é verdade. Sou apenas culpada de o ter feito parar. E talvez de não ter conseguido suster o peso dos ponteiros de todo o universo.
- Mas é apenas um velho. Penso para mim própria.
Percebo que as minhas memórias e a sua representação material se degradaram em tão perfeita proporcionalidade que temo que em breve se extingam todos.
E sei, sei agora que o tempo deu-lhe a mais terrível das razões.
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