domingo, 9 de agosto de 2015

Oráculos reversos

Deu-lhe razão, o tempo. 
Afundaram-se-lhe as linhas do rosto. Desvaneceram-se os contornos da boca. O cabelo rareia e o olhar embaciou-se. A pose perdeu a altivez. A expressão é a de uma desorientada senilidade precoce. 
Afigura-se-me evidente que uma bruxa apropriou-se da ampulheta estagnada e pelo vidro correm agora velozes as purpurinas lunares. 
Dizem-me que fui eu a autora do feitiço da cruel reposição do tempo. Não é verdade. Sou apenas culpada de o ter feito parar. E talvez de não ter conseguido suster o peso dos ponteiros de todo o universo. 
- Mas é apenas um velho. Penso para mim própria. 
Percebo que as minhas memórias e a sua representação material se degradaram em tão perfeita proporcionalidade que temo que em breve se extingam todos. 
E sei, sei agora que o tempo deu-lhe a mais terrível das razões. 

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