quinta-feira, 2 de julho de 2015

Comunicações intergalácticas

Preciso que voltes. Em forma de pedra, cão, minhoca, brisa marítima ou vento terrível que faz as portas baterem e os pelos do pescoço eriçarem-se. Se a vida fosse a porra de um filme já terias voltado. Prometeste-me que a vida era a porra de um filme. Preciso dos poemas que não chegaste a escrever. Dos teus ouvidos. Infalível máquina de conversão em realidade das alucinações do meu quotidiano. Preciso do teu olhar trocista sobre a minha existência. Da tua filosofia de bula de medicamento. Dos teus silêncios profundos a julgarem a minha consciência. Preciso que voltes para me julgares em silêncio. Preciso de um ser humano a quem não consiga nunca enganar. Preciso saber que existes ainda. Que apesar de também existirem todas as outras coisas, existes tu sobre elas. Preciso de ti para dares nomes próprios aos objetos desta casa. As minhas coisas perderam os nomes. Preciso encontrar-te num céu perfeito. No topo de uma mesa de galo. Nas cordas vocais de um espírita burlão. No olhar de um gato vadio. Nos telhados da cidade. No reflexo de um campo de papoilas. Nos búzios espalhados sobre o chão de mármore. Preciso que faças um intervalo nessa coisa da morte. Preciso que cumpras a promessa de ficares até ao fim. Preciso que voltes. Hoje.


7 comentários:

  1. Deixo-te aqui um grande abraço. A saudade é absolutamente lixada.
    Keep on going. Amanhã é outro dia.

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  2. O paternalismo fica-lhe mal, cara Uva.

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  3. Lo there do I see my father;
    Lo there do I see my mother, my sisters and my brothers;
    Lo there do I see the line of my people, back to the beginning.
    Lo, they do call me, they bid me take my place among them, in the halls of Valhalla, where the brave may live forever.

    Coragem Pirata, morar na barriga da baleia branca não é estar morta. O mar tudo tira e tudo devolve.

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    1. Ayyyy oyeeee! Arrrr!
      Que o diga o Gepeto.

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    2. Pode sempre ir jogar uma cartada com o Barão Münchhausen.

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  4. Gostava tanto que fosses tu.

    A casa que cheira a maçãs e madeira ainda existe, a cameleira, o tanque, a luz amarela de todas as cores do ano.

    Continuo a fumar cigarro atrás de cigarro sentado no telhado, à tua espera.

    Sou um gato que não morre. E que cumpre as suas promessas. Tão reais como os sonhos acordados.

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