terça-feira, 14 de julho de 2015

Lírio Albino




Inconvencionalmente, adotámos como animal de estimação o lírio albino que nadava livre nas águas fundas do Atlântico. Lá longe. 
Nada direi sobre a irrealidade de mergulhar de mãos dadas como quem caminha sobre a lua e esse resto de alegria que foi a última ilusão de liberdade.
Inconvencionalmente, sem que nos fosse possível suspeitá-lo, esse lento toque de dedos mudaria um dia o curso da vida, do outro lado do mundo. 
Quando parti desfiz-me das mais inoportunas memórias. Mas o lírio albino que víamos nadar em liberdade visitou-me em sonhos, noite após noite.
Esta madrugada abeirou-se da minha almofada para me dizer que era chegada a altura de me restituir à liberdade.
Pela manhã recebi a notícia que, lá longe, um homem que já não conheço avistou um lírio albino. 



9 comentários:

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    1. Sim, mas em versão mix com o sonho de Chuang Tzu. Que, como sabe, tendo sonhado com uma borboleta, ao acordar não sabia se era um homem que havia sonhado com uma borboleta ou uma borboleta que sonhou ser um homem.

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  2. Que pangasius tão bonito. Conheço um que tem por companhia outro que não á albino.

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    1. Ah, mas aposto que não sonha com ele!!

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    2. Não Pirata, não tenho memórias sonhadas que afundaram até serem sonhos memorizados. Feliz 14 de Julho.

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    3. Brutal esse seu comentário.
      Feliz dia 18 de julho.

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  3. «Estes navios, belos e majestosos, que oscilam de forma imperceptível em águas tranquilas, estes navios robustos com uma aparência desocupada e nostálgica, não nos segredarão eles, numa língua muda: "Quando é que partiremos, para os dias felizes?".»

    Escritos Íntimos, Charles Baudelaire

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    1. Muito bonito, Flor.
      Não me lembrava quanto gosto de Baudelaire.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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