domingo, 26 de dezembro de 2010

A chuva de ontem lavou os restos do Natal. Esta manhã, o sol sobre a minha esplanada em frente ao mar soube-me a uma provocatória mensagem de optimismo, ao melhor estilo life goes on, let´s do it.
Um veleiro no mar. Histriónica harmonia publicitária em terra.
Não tenho nada contra as iluminações, os presépios vivos, as memórias de outras missas do galo nos dias em que os pinheiros tinham cheiro. E até sobrevivo às reuniões familiares. Desde que eles não se ponham a cantar. O que me extenua nesta época é o esforço da confrontação com uma ideia de felicidade estereotipada. Por isso, o meu alívio por hoje o sol me ter oferecido uma manhã de finais de Março.
Quando os camiões do lixo levarem os papéis de embrulho rasgados não sobrará mais nada que me atire à cara o desconforto de uma existência com demasiadas coisas ainda por fazer. Dizem que essa é a génese das fobias. O medo de morrer antes de se ter vivido. Mas essa é também a sentença dos inquietos. A convicção permanente e às vezes ilusória de que nunca se viveu o que importa ser vivido.
Histriónica harmonia publicitária em terra ou um veleiro no mar?
Por respeito à época, no regresso a casa depois do meu passeio matinal de Domingo, evitei as habituais conversas imaginárias com os cães que se cruzaram comigo.

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