Abri as mãos para deixar cair a nossa história.
Correram tantos grãos de areia na garganta da ampulheta que já não sei o que é memória, eufemismo, mentira e resto de verdade. Reduzi-te a um esqueleto de factos e presumo que alguns ossos sejam próteses. Falei sobre ti com a emoção da estenógrafa distraída, da má tradutora, do eco na sala vazia. Não houve humilhação nem culpa. Os nossos crimes prescreveram; já não existimos; somos personagens de Ibsen. Trocou-se a história pela estória.
No final, olhei para as mãos abertas e para o chão limpo e fiquei a pensar que talvez te tenha assassinado uma outra vez mais.
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ResponderEliminarUm chão limpo da areia das memórias pode ser muito tranquilizador. Podemos andar nele descalças sem sensações desagradáveis.
ResponderEliminarBeijo, Cuca :)
Fica sabendo que com este post/ título foste responsável por reincursões musicais pelos sempre auspiciosos universos do Sr. Victor Afonso (ex Nihil Aut Mors). So far so good!
ResponderEliminar;)
Maria, passear descalça pelo passado é uma metáfora lindíssima.
ResponderEliminarLadykina, e o linkinho? Sua ingrata.
ResponderEliminarÁtá.
EliminarNem de exemplo serve mas olha, vai à pesca:
https://soundcloud.com/victor-afonso-kubik