terça-feira, 12 de junho de 2018

Como o azeite na água benta

Fingi-me civilizada. Cobri-me de rendas e enfeitei as cicatrizes com pérolas roubadas. Usei tiaras das inocentes flores do campo. Sentei-me direita e de pernas juntas. Calei o medo, a raiva e a loucura. Pintei um inteiro portofólio em tons rosa, pêssego e lavanda. Sei os gestos. Consigo reproduzi-los ao som do mais falso sorriso beatífico. Fomos quase felizes. Mas depois a lua mudou. As rendas comicharam-me as veias. As pérolas arrefeceram-me os pés. O pólen entrou-me pelas narinas. Os músculos do pescoço paralisaram. E então, com o metal do veneno já espalhado na boca, obedeci ao chamamento do sangue e revelei-me a bárbara que sou. Creio que ainda tinha o meu falso sorriso colado à cara quando lhe enterrei a espada no peito.
Foi um alívio e uma felicidade. 

3 comentários:

  1. e se revelasses a bárbara primeiro e só depois a pamela?

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  2. Acho boa ideia a do Manel, se aguentasse...então depois alguma doçura:)
    ~CC~

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