terça-feira, 6 de março de 2018

Biografia




Como dizer-te dessa estrada secundária por onde só passa quem procura alguma coisa que não sabe o quê; do seu asfalto gasto pelo pó do deserto que vai da berma até ao meio da faixa de direção unívoca; como dizer-te desse café de portas empenadas, por onde já só entra um pouco de vento que se anuncia no abraço do cristal das velhas estrelas penduradas no tecto; do salão vazio onde não se dança ao som da caixa de música avariada. Como dizer-te das cinco da tarde e das janelas de vidros sujos onde a luz dourada assoma à despedida. Das coisas que eram minhas e que foram, uma por uma, abandonadas. Como dizer-te de mim?

10 comentários: