Seis luas novas vieram desde que deixei o exílio.
O que mais me faz falta é o vento dos loucos. De tempos a tempos acordava com areia nos dentes, feridas nas plantas dos pés e a camisa de dormir salgada. Sabia, então, que, enquanto dormia, tinha chegado o sueste, o vento dos loucos. Durante três dias enlouquecíamos todos e o remoínho de lixo plástico que se arrastava nas ruas era o reflexo da reciclagem das nossas memórias. Durante três dias levantávamo-nos e adormecíamos com a alma a gritar em sintonia com os uivos do vento, de tal forma que, na sua partida, já não sabíamos o que era uma e outra coisa.
Aqui não há vento. A temperatura, o ar e até as horas de luz, são rigorosamente controladas pelos burocratas que há muito descobriram que a melhor forma de nos controlar é eliminar a sensação do tempo. Aqui a loucura não é trazida pelo vento. Existe no asfalto e cola-se-nos às solas dos sapatos. Quando damos conta já se agarrou às nossas pernas. As pessoas sacodem-na com força porque, aqui, ninguém aceita a loucura, ainda que temporária, como uma inevitabilidade da natureza. Aqui não há natureza. Há um ecosistema definido por decreto-lei. E um dia, também eu deixarei de contar o tempo. E de enlouquecer.
Não imaginas a fúria do vento... O céu chora copiosamente a tua ausência.
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