sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Eu conto-te como foi

Como uma lâmina que invade um corpo incrédulo
que não se sabe baixar para receber a facada,
nem se deixa escorregar por uma parede fria,
recusando-se a deixar atrás de si uma mancha
vermelha

e sem a graça de, por um mísero instante, perder a noção da realidade,
um corpo a descodificar lentamente uma informação
que a mente, virgem daquela espécie de dor,
não pode, não sabe reconhecer

embrulhada numa nova forma de violência
(a gratuita, a inútil, a bárbara)
com o vício a obrigar o corpo a erguer-se,
a mesma expressão resignada de outros cadafalsos
embrulhada numa velha forma de dignidade
a esconder as feridas nos casacos de pele.

Só porque as minhas margens não coincidem com o boneco
traçado a giz no chão da estrada,
Não significa que o sangue que corre não seja o meu.

E se foi há tantos dias,
E se foi tão gratuito, inútil e bárbaro
Porque é que eu ainda não consigo respirar?

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