Nunca consegui ensiná-lo a ver, não para além, mas através do aparato.
Sentados no chão de terra batida, joelhos nus, mãos sujas, olhos límpidos, o sol a esvair-se para lá da montanha, eu a afiançar que podia ser apenas aquilo e ele ensurdecido pelo inoportuno tilintar das minhas pulseiras.
Demorei muito tempo a perceber quão escura e densa é a cortina do aparato. Depois aprendi a amá-la. Daquela maneira como se ama a pequena cicatriz que se trouxe de lembrança de uma guerra que não foi ganha nem perdida.
As mulheres não deviam usar pulseiras. Assim não conseguem ensinar nada, e nunca se sabe quando é preciso.
ResponderEliminarCreio que se não fossem as pulseiras seria o cintilar dos olhos, o brilho do cabelo ou o último raio do sol. É inevitável existir sempre um elemento desviante quando não se quer ouvir o essencial.
ResponderEliminarAcho que as pessoas não deveriam ter de ensinar nada.
ResponderEliminarToda a gente devia ser autodidata.
Beijos a ambas.