terça-feira, 30 de novembro de 2010

Conversas imaginárias com Deus



Deus - Minha filha, deves ver os acontecimentos dos últimos tempos como provações…
C - Não me lembro de ter enviado currículos para o lugar de Job. Além disso já tenho emprego. Por falar nesse assunto, vai-te embora que preciso de trabalhar.
Deus - Não depende de candidatura. Todos são criaturas de deus e deus estende a todos as provações que entende.
C - Reparo que falas de ti próprio na terceira pessoa. É complexo de jogador de futebol ou é mesmo por seres um cobardolas que pretende desresponsabilizar-se disfarçadamente?
Deus - As provações são minhas. A responsabilidade pelas escolhas é tua.
C - Oh, cala-te. Tu geres um tasco ordinário de prato único. Estou farta da tua moralidade requentada.
Deus - A moralidade, minha filha, é um antídoto contra o niilismo.
C - És mesmo impostor. Foi o Nietzsche quem disse isso. Se pensas que vens para aqui enganar-me com essas conversas pseudo-intelectuais…
Deus - Não te peço o sacrifício de Abraão, ou a fé de Job, só te peço que te voltes para mim.
C - Abraão era um assassino que deveria ter sido condenado. Job, um fanático afásico. E eu, eu preciso de trabalhar.
Deus - Recuso-me a desistir de ti.
C - Até podes enviar as pragas do Egipto. Já antecipei esse golpe baixo e enchi a despensa com frascos de insecticida.
Deus - Um dia acabarás por me pedir ajuda.
C - lá-lá-lá-lá. Não estou a ouvir nada. Lá-lá-lá-lá. Não estou a ouvir nada.
Deus - Tarada de um raio! Estou a ficar farto desta gaja.
C - Doutora Gaja, se fazes favor.

7 comentários:

  1. Doutora Gaja Cuca, não me surpreendeu a sua intimidade com Deus. E com esse feitiozinho apetece-me chama-la Doutora Gaja Tamár [sim, é um elogio enorme]
    Maria Helena

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  2. Maria Helena, a parte do mau feitio tenho que admitir que é verdade.

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  3. @Cuca: Tivesse a conversa desenvolvimento e ainda levava com o derradeiro argumento-tipo-porque-sim:

    "Vós seréis meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando."

    Ou, já em desespero de causa, usava a hipótese de cunha e/ou favorecimento:

    "tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome,
    Ele vo-lo concederá."

    Notar que a conjugação dos verbos é também uma forma de coacção.

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  4. Noodles, Este tipo é perigoso. Primeiro, não fornece provas de existência mas exige provas de fé. E justifica a falta de necessidade de comprovar a existência com a valorização da fé. Isto é a lógica da burla.
    Depois, como bem nota, tem uma estrutura claramente montada para o compadrio e a cunha. É a lógica do favorecimento pessoal.

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  5. Mais: segundo consta, usa camisa de dormir, sandália tipo Avante e descura a higiene pessoal. Nada recomendável.

    Nã... mal por mal prefiro acreditar no Pai Natal (se bem que aquele hábito de querer as criancinhas ao colo e de se rodear de ajudantes que lhe dão pela cintura...)

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  6. Não me fale em duendes...agora que finalmente desassombraram os meus sonhos.

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  7. Os ajudantes do Pai Natal são elfos, não duendes (referência desnecessária, será o sádico em mim).

    Quando lhe chegarem essas temporadas, sugiro um baseado... vai ver como os sonhos se vão embora num ápice. Todos (é a parte má).

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