Cumpro escrupulosamente a promessa de te esquecer. Há anos que a cumpro, esquecendo-me de ti todos os dias um pouco e fazendo-o ainda melhor no dia seguinte. Cumpro-a tão bem que já não saberia dizer a sensação dos teus cabelos entre os meus dedos, ou a expressão do teu olhar quando fixo no meu, ou o ligeiro encurvar da sobrancelha direita na tua fraca imitação do meu ar de amuo. Cumpro-a tão perfeitamente que já não me lembro do teu andar dançado; de nenhum sinal de nascença na omoplata esquerda; do ângulo de inclinação dos pés egípcios; do timbre musicado na pronúncia da segunda consoante do meu nome; do dedo anelar a eliminar da têmpora um pensamento insistente. E nem sequer me ocorre a tua duplicada interjeição de espanto, a forma amendoada das pálpebras adormecidas ou a pressão exata da tua mão na minha.
Porque todas estas coisas que agora percebo que já não lembro desfizeram-se na permanente, contínua, interminável missão de cumprir a promessa de me esquecer de ti.
Tão bom, Cuca, tão bom. (desejo-te sorte no empreendimento, seja em que sentido for)
ResponderEliminarEsquecer é um plano tão bom como outro qualquer. O importante é ter um plano :)
EliminarAntologia do esquecimento, lento. :)
ResponderEliminarOu um esquecimento de antologia ...
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