Por agora, neste lounge a três
metros do sítio onde as ondas vêm morrer mansas, ainda nos servem o vinho
gelado ao som de Erykah Badu.
Mas os toldos e as gaiolas de
pássaros de louça que por cima das nossas cabeças abanam ao ritmo do vento contam tudo.
Não estariam aqui nesta altura se tivessem passado o verão inteiro a mover-se com
tanto frenesim.
Em breve, os casais bronzeados
deitados nas camas a trocar protetor solar darão lugar a ingleses de meia idade e galochas a apanhar conchas na praia.
Por trás de nós, na fila de restaurantes,
bares e pequenas lojas de recordações, já se adivinha uma plateia de gaivotas expulsas
do mar. Cadeiras de vime amontoadas de encontro a janelas sujas. Sacos de
plástico a esvoaçar sem dono nem destino. Uma bola vazia esquecida. Restos do
verão que se acumulam nas esquinas.
Deitada ao sol, neste sofá branco, esqueço o vinho e agarro-me a essa promessa de outono. O lounge será desmontado, a Erykah deixará
de dizer, enquanto se ri, que ooh i´m so in love with you, ooh badhi, badhou, não será necessário
fingir a felicidade e eu e o meu espaço exterior estaremos, finalmente, em
sintonia: seremos ambos uma estância balnear abandonada.