Há quem acredite que tudo aquilo que existe no mundo, desde a substância agregadora das coisas até à célula génese do pensamento, são transferências de energias.
E há também quem creia que a energia das emoções, uma vez ultrapassada a carga processável pela mente, se dissipa pelo cenário que as envolve e se deixa cair, arrefecida, sobre as coisas. Cobrindo-as com um manto feito dos mesmos fios com que foram tecidos os sentimentos. De tal forma que, um simples banco de jardim, tanto pode assumir a sombra soturna da memória do último fôlego daquele que nele foi assassinado, como o brilho solar da felicidade de um casal de namorados que, sem sequer ver o banco, ali se sentou para se beijar.
E foi para tentar perceber quanto tempo resiste nos locais esta forma de energia que ontem, depois de a lua se erguer, segui os nossos passos da noite anterior.
Na calçada junto ao rio encontrei, espalhados, restos de uma felicidade de véspera que, assim, abandonados a céu aberto, me pareceram indecorosos, quase decadentes.
E enquanto me baixava para recolher do chão a energia das emoções sobejantes, olhei para a lua, quase perfeita meia lua, e percebi que alguém lhe deu uma dentada.
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