segunda-feira, 7 de abril de 2014

Diário de Bordo

Já diz o povo - cuja sapiência é claramente posta em causa pelo estado das democracias da velha Europa, mas não vou falar nisso agora para não ficar já indisposta - que não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe.
Cumpriu-se o adágio neste navio, terminando assim a terrível crise financeira com que nos debatíamos desde o início do ano, altura em que esta brava tripulação se entregou ao vício do jogo e nos deixou a todos na mais miserável miséria.
Quando descemos à barriga da baleia para salvar uma das nossas do reino dos mortos, deixámos no seu lugar o nosso refém Jack Sparraw, ficando impossibilitados de o devolver ao patrões de Hollywood e enriquecer com o resgate.
Mas graças ao elegante hábito destes Piratas, que consiste em roubarem tudo o que vêem mesmo que estejam convencidos que não serve para nada, a nossa sorte mudou.
Quando chegámos ao navio, além de algumas caixas de fósforos humedecidas, o velho livro da escola do Pinóquio, os restos daquilo que suspeito ter sido uma camisa de Gepeto, uma faca de amanhar peixe,  meia bolacha oreo e um carregador de telemóvel de linha branca, constatei que estes bravos tinham roubado quilos e quilos de uma coisa cinzenta e muito malcheirosa, saída diretamente do intestino da baleia.
Depositámos a estranha substância na piscina do navio e fomos ao google tentar perceber se aquilo, depois de seco, nos poderia servir como alternativa gastronómica às algas, cujo excesso de consumo nos provocou uma estranha tez esverdeada.
Foi nessa altura que descobrimos que o excremento da baleia é uma coisa que se chama âmbar cinza e que rende fortunas no mercado da cosmética.
Um anúncio no e-bay e dois telefonemas depois, a piscina estava vazia e os nossos cofres cheios.
A moral da história é que, a quem nasceu para vencer, mesmo que numa situação merdosa, até a merda o pode salvar. 
Este navio voltou aos seus tempos esplendorosos de sunset parties com DJ's contratados, lenços da Hermès, tapa-olhos importados, mobiliário de design e jantares gourmet feitos na Bimby que tirei do prego e devolvi ao Andhrimnir, o cozinheiro Pirata e que é a personagem neste blogue que mais vezes muda de nome atenta a minha incapacidade de o fixar.
Tencionamos gastar o dinheiro todo em festas e futilidades extravagantes e esperar calmamente pela pobreza enquanto atacamos um ou outro barquito por pura diversão. 
Imbuídos deste espírito, decidimos rumar à costa da Toscana para fazer uma visita de estudo à Uffizzi e, por uns dias, substituir o rum pelo Chianti. 



5 comentários:

  1. E, não consigo evitar quando penso em Chianti, recordar que havia quem achasse que ia bem com favas. Gosto de favas -- não sei se as encontraria na Toscana, contudo. Merecia a investigação. :)

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    1. Tenciono ter condições para descobrir isso das favas dentro de dois dias :)

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  2. Eu bem me parecia que esta sensação desapego da blogosfera só podia ser por andar na rambóia , boat party atrás de boat party...
    De qualquer modo temo que uma parada na Galleria nos ponha os carabinieri no encalço, porque afinal como dizia o outro "Antes pirata por um dia, do que um teso toda a vida"...

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    1. Pensei em tudo. Antes de Florença passaremos em veneza e compraremos aquelas máscaras giras para nos disfarçarmos.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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