terça-feira, 13 de agosto de 2013

À saída do Inferno

(...) "Pensas nesta altura
que estás além do centro onde eu prendia
a pele ao verme vil que o mundo fura.
De lá tu foste enquanto eu me descia;
mas quando me voltei tinhas passado
ponto que a todo o peso atrai a via.
E ao hemisfério ora te eis chegado
oposto ao que recobre a grande seca,
sob o tecto da qual sacrificado
foi quem nasceu, viveu e em nada peca;
os pés tens postos na pequena esfera
que a outra face faz de ti Judeca.
Se é cá manhã, já lá anoitecera:
e este que a nós co pêlo escada deu,
tão cravado inda está como antes era.
Desta parte tombou vindo do céu;
e a terra que aqui antes se estendia,
do medo que lhe vem fez do mar véu,
vindo ao nosso hemisfério; e então seria
que fugindo, lhes esvaziou ignoto
lugar a que ali vês e que acendia."
Há um lugar a Belzebu remoto
tanto quanto esta gruta já se estende,
que, não por vista, mas por som é noto
de um regato que por ali descende
da boca de um rebordo pedregoso
rói o corso que faz e pouco pende.
Nesse caminho pouco luminoso
entrámos por voltar ao claro mundo;
e sem cuidar de ter algum repouso,
subimos, antes ele e eu segundo,
tanto que eu vi enfim as cousas belas
que tem o céu, por um buraco ao fundo;
e saímos voltando a ver estrelas.

A Divina Comédia, Dante Alighieri, Canto XXXIV Tradução de Vasco Graça Moura, Quetzal

Post it: Se vais deixar a leitura da Divina Comédia a meio durante vários meses, talvez não seja boa ideia fazê-lo enquanto ainda estiveres no Inferno.

3 comentários:

  1. Dante e as estrelas... ele conseguiu sair do Inferno, poeta de sorte, Dante Alighieri.

    ResponderEliminar
  2. É exactamente esta edição que pretendo recuperar quando passar pela Bertrand da Baixa, isto porque emprestei a minha e nunca mais a vi.


    Pois que não deves ficar no Inferno, no mínimo, põe um pezito no Purgatório. Ainda que seja um pé tímido. (:

    ResponderEliminar