domingo, 11 de novembro de 2012

placebos




Enfiar a mente num espartilho e mantê-la, assim, controlada e quieta, não é tarefa para meninos. Uma dieta emocional à base de doze horas diárias de árduo trabalho intelectual e mais três de todas as Jane Austen deste mundo, em versão áudio-livro e em inglês, para tornar tudo mais insuportável, não foi suficiente para disciplinar a minha mente e impedi-la de andar por aí a vaguear por becos perigosos e mal frequentados. Convencida que o problema não estava no remédio e antes na dosagem, intensifiquei o tratamento para cinco horas diárias da Moby Dick, do Melville. Deve dormir-se o menos possível para não dar tréguas a uma mente insubmissa e pouco escrupulosa que se aproveita da redução da vigilância para estabelecer contacto com o coração.
Entretanto, dei-me conta que além de me ter caído metade do cabelo, adquiri uma estranha expressão de louca. Penso que são efeitos secundários do tratamento. Mas também é possível que me esteja a transformar num fantasma.
Parece-me o justo destino de quem entregou a alma e cortou relações com o coração.  

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