quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Correio dos Leitores

"Sendo presença recente neste espaço sideral, não sei se terei o direito a opinar da forma que o irei fazer. Mas, considerando que a porta (vulgo, caixa de comentários) se mantém aberta, e talvez porque tenha bebido um pouco acima da conta à hora do almoço – caso raro, mas não impossível –, soltarei o verbo. Perdoem-me as acrobacias de forma e modo. Tenho, no entanto, como fonte primária de inspiração as abordagens gastronómicas desse poço de sapiência, loquacidade e verborreia que é José Quitério.

Saibam vossas senhorias o quanto me tem sido agradável ler as palavras que derramais. Mas eis que o deslumbramento se inicia logo na nomenclatura das intervenientes.

Medusa, sendo a única que remete para galáxia e nebulosas – em forma de alcunha, é certo, e que cada um depreenda deste particular o que entender –, demonstra toda a sua insanidade em passeios nocturnos, em que protagoniza vários arrufos consigo mesma. Já se revelou íntima de Baco, Vénus e Afrodite, pelo que parece ser a que mais está em contacto com Eles. Todos. Influente, alardeia de tal forma a sua deliciosa arrogância que é carinhosamente apelidada pelas restantes como alforreca manhosa. Aparece em primeiro lugar por, precisamente, ser dada a subidas ao púlpito (cento e catorze intervenções ou garantem lugar no Olimpo ou permitem caracterização via anglicismo: big mouth). Em todo o caso, se a sua boca for tão feliz como as palavras vertidas por seu punho, temos beldade.

Cuca pertence, tal como o próprio nome indica, ao imaginário de todos nós. Não sendo marmelada de banana, bananada de goiaba ou goiabada de marmelo faz lembrar, no entanto, as tigelas do último, guardadas por minha avó: cobertas com papel vegetal previamente embebido em aguardente, acumulavam aí todo o seu bolor. Retirada a folha – que consigo transportava o fungo acumulado –, vislumbrava-se a cor brilhante e apetitosa do manjar caseiro. Sofrida e um tanto ou quanto dada a oscilações de humor, cultiva com carinho o apreço por desportos tão radicais como a insónia e a enxaqueca. Tendo como melhor amizade um extraterrestre que responde pelo estranho nome de Le-xo-tan (porque não Jor-El ou Obi-Wan Kenobi, indago), Cuca apresenta alguma tendência para a indignação em relação ao sexo oposto pelo que, no mesmo, só poderá provocar um misto de estranheza e vontade de transmitir afecto (a saber, colinhos e tau-tau). Ao contrário de Medusa - e pelo que este vosso humilde servo tem notado -, nunca foi a dita alcunhada pelas demais. Caso me não tenha equivocado, fica a sugestão: lagartixa. Termino, repetindo a graça feita à criatura mole e viscosa: tenha por fisionomia a elegância que imprime à escrita e certamente não lhe faltarão malgas onde verter a sua marmelada.

A Estrelita, sendo a mais recatada, acaba por ser a única verdadeiramente mitológica. Esquiva, parcas nas palavras, das duas, uma: ou sofre de Alzheimer e sempre que tem inspiração para um post, olvida-o; ou então é de tal forma misteriosa que até o disfarce em forma de diminutivo popularucho cria um efeito de halo que não consigo definir. É, definitivamente, a mais estranha das três criaturas. Faz-me lembrar também cereais que se misturam com o leite, que são muito do meu agrado.

Escreveria mais, mas meu fígado guincha. Agradeço-vos a liberdade, pois há muito tempo não escrevia (assim). E curvo-me em sinal de reconhecimento e gratidão, por tanto rir e sorrir à conta das vossas chuvas de meteoritos e estrelas cadentes.
Com a mais elevada consideração,
Noodles"

2 comentários:

  1. Aahahahah
    Mais logo já respondo a esse senhor Noodles que me chamou de lagartixa.

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  2. Noodles:
    Míticas,assustadoramente míticas, são as suas capacidades analíticas(gostei especialmente da parte efeito "tau-tau/colinho" no sexo oposto).
    Só falhou parcialmente na Estrelita que, em vez de alzheimico-recatada, é mesmo alzheimico-preguiçosa.
    Volte sempre, especialmente quando estiver com os copos.

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