quarta-feira, 7 de julho de 2010

Crítica das coisas puras

Não tenho a certeza que ela esteja no coração pois, por vezes, sinto-a na garganta. Como dificilmente alguém inventa seja o que for, creio que é comum ao comum dos mortais. Na redoma guardo-me a mim mesma enquanto criança. Cruel e inocente. Guardo as dores de crescimento que me agoniavam de noite quando as canelas pareciam que me iam rasgar a pele. Um especial de Natal da Turma da Mónica. O papagaio de papel que o meu pai fez para mim. Um balão de São João consumido pelo fogo. Parágrafos inteiros do primeiro romance que li: uma pungente história de amor passada na Escócia de há um par de séculos atrás. Um príncipe muito alto e bonito, montado num unicórnio albino. Escaldões do início do Verão e o meu corpo gelado do mar na toalha de praia da minha mãe. Departures and Arrivals. Um tigre de peluche maior que eu. O perfume da minha avó paterna.


A posse dessa pequena Atlântida permite que me encantem certas coisas simples.

3 comentários:

  1. http://starsmythicalcreatures.blogspot.com/2010/06/projectos.html

    Em certos dias, afasto-me perigosamente da cabra insensível que sempre sonhei ser.

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  2. Esta manhã apareceu-me o unicórnio no gabinete. Guardei-o logo de volta na redoma, antes que alguém o visse.

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