Preciso que o verão abandone a minha estância balnear e me devolva o abandono. Todas as tardes me sento no areal a vê-lo partir. Cada dia está mais longe mas ainda paira suspenso na linha do horizonte num risco laranja vivo em combustão acusadora. Preciso que vá. Que leve com ele os cabelos molhados e as toalhas enroladas aos corpos e os chapéus dos ingleses e os barcos que brilham ao fundo. Que sejam banidas as havaianas do chão, fechadas a cadeado as gelatarias, recolhidas as esplanadas, desmontados os estrados, escondidas as bolas. Preciso desta estância balnear deserta. Do frio húmido das manhãs, do ruído perturbador do vento na minha sala, da aflição das gaivotas pela noite dentro. Preciso que parta e me devolva o alívio de um cenário de inverno.
O cenário onde as ausências se confundem, se atenuam e por fim se anulam.
Todas as tardes me sento no areal à espera. À espera que se vá.
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