Um dia, enquanto passava casualmente por uma daquelas apresentações literárias, senti tanta pena de um rapaz infeliz sentado sozinho numa mesa ao sol que lhe comprei um livro, sem qualquer intenção de o ler. Apesar de o rapaz ter ar de quem não comia há alguns dias, o objetivo não era dar-lhe dinheiro para que suprisse necessidades básicas de alimentação, mas apenas fazê-lo um bocadinho menos triste.
Muitos anos mais tarde, com o episódio completamente eclipsado da minha mente, encontrei caído na parte traseira do armário dos sapatos um saco de plástico com um livro, nunca aberto, autografado pelo, então já conhecido, José Luis Peixoto.
Dizem-me que o livro é bom, mas eu recuso-me a lê-lo por não querer conspurcar retroativamente um dos meus raros momentos de pura generosidade com a venalidade de uma troca comercial.
Lembrei-me desta estória ontem, ao reconhecer nos olhos de Esmeralda o mesmíssimo sentimento de piedade.
Espero, sinceramente, que também nunca leia o livrou que pagou.
gostei, mas não sei quem é a Esmeralda
ResponderEliminarA Esmeralda é uma senhora que ontem me comprou um livro :)
EliminarEu fico a torcer para que ela o leia. Ficará mais pobre se não o fizer.
ResponderEliminarJá agora, qual é o livro do JLP?
Nenhum olhar. Suponho que seja dos primeiros.
EliminarEsse não li, só alguns mais recentes.
EliminarJá fiz alguns truques para ganhar comida (mais por vontade do que por necessidade), mas ainda não experimentei escrever um livro. Lá chegaremos e, quando assim for, se me vires algures com cara de cachorro abandonado, dá-me uma peça de fruta em vez de me comprares o livro.
ResponderEliminarAssim, pelo menos, aumento as hipóteses de o leres ;)
Suspeito que se escrevesses um livro para ganhar comida não ias querer que o lessem :)
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