Tive muitas vezes dúvidas sobre essa estranha coisa da alma e, em especial, sobre se eu própria teria sido contemplada com uma. A dúvida foi séria mas não foi razoável.
Passei os últimos dez dias sem a minha indisciplinada alma que se recusou a voltar comigo para Lisboa. Sem alma, nem ânimo, nem sucedâneo com diferente nome, sou um corpo inquieto que deambula pelo asfalto à procura de si próprio nas esquinas onde os cães fazem chichi. A metáfora será exagerada mas serve para dar a ideia geral de um estado de falência orgânica.
Às vezes penso que nunca recuperarei essa alma que ficou lá, congelada nesse momento de que fala a música.
Outras vezes, num plano menos metafísico e mais pragmático que se perdoa a quem já não tem alma, penso que deveria ter insistido para que me fizessem um desconto no bilhete de avião. Sempre são menos 21 gramas.
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