domingo, 13 de maio de 2012

Comunicações intergalácticas


Acho que foste tu que me enviaste o arco-íris duplo que abraçou a ilha inteira e se instalou durante setenta minutos. Parei o carro e o tempo e fiquei suspensa no final do arco. No sítio onde há duendes e potes de ouro e, porque não, o riso daqueles que já não podemos ver. Também acho que foste tu que, na mesma noite, me enviaste o mais bonito espectáculo pirotécnico que já vi na vida. Durante mais de quatro horas o céu fotografou todos os recantos da terra. E os raios iluminaram o mar que ficou lilás com pequenas ilhas azuis.
Acho que me enviaste essas coisas todas por saberes que precisava que me lembrassem que há na natureza uma nota de infinitude, milagre e deslumbre que sempre compensará as limitações e a fealdade dos homens.
Bem sei que não gostavas de mar e muito menos de ilhas e me vaticinaste um destino de escamas arrancadas e aprisionamentos em topos de vulcões onde se constroem casas que estão sempre condenadas a desfazerem-se em cinza. Mas no mar não existem apenas peixes. A prova são os piratas que as luas atiram para a costa. O mar é, por excelência, a morada preferida dos vagabundos.
Partilhei a tua falta de fé na humanidade, sem perceber que a estendias a mim.
Debaixo desse arco-íris que acho que me enviaste soube que não corro o risco da realização do teu vaticínio. Não me arrancaram escamas, não me deixei aprisionar e não construí uma casa no topo de um vulcão.
Como diz outro poeta, “sou vagabundo do mar”. 

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