O meu senhorio israelita da Mossad veio sentar-se na minha mesa no restaurante. Como de costume, era a única mesa ocupada.
Deve ter estado à espreita, nas minhas costas, para surgir no exacto momento em que eu enchi a boca com secretos de porco preto.
Também lhes ensinam estas coisas lá nos campos militares onde os treinam.
Incapaz de protestar sem perder a dignidade, acabei por o deixar sentar-se na minha frente e roubar-me uma azeitona.
Ainda fiz um esforço por tentar lembrar-me se lhe teria pago a renda. Antes de conseguir chegar a uma conclusão percebi que vinha em missão social.
Os velhos da praça disseram-lhe que passei a exibir uma expressão carrancuda e zangada. Que já não se ouve música das minhas janelas. Que vou despejar o lixo durante a noite para não ter que passar por eles. Que ganhei a guerra contra as mulheres que me espreitam para a sala condenando-me à bunkerização nas tardes de sábado.
Da vila, chegam-lhes notícias igualmente preocupantes. Diz-se que lá no meu trabalho já não me vêem passar pelos corredores com um sorriso imbecil na cara. Que quando entro na sala grande tenho um ar mal disposto e, por vezes, me esqueço de dizer bom dia. Que, ultimamente, os grandes textos encriptados que assino estão pejados de expressões como “personalidade desconforme às mais elementares regras sociais” e “falta de competências para uma normal vivência numa sociedade que se quer segura” e “imunidade absoluta aos efeitos das penas”.
Acabei de deglutir o porco preto em silêncio e não lhe expliquei que a génese do meu problema se situa algures entre o cansaço e a mentira.
Ele ficou a olhar para mim durante uns minutos e depois disse com um tom grave:
- Nunca serás capaz de nos compreender.
Fingi não reparar na ousadia da despropositada informalidade.
Sem querer, ele diagnosticou a minha doença.
Não se faz verdadeiramente parte de algo que não se apreende e eu nunca conseguirei compreender as infinitas limitações dos seres humanos.
Deve ter estado à espreita, nas minhas costas, para surgir no exacto momento em que eu enchi a boca com secretos de porco preto.
Também lhes ensinam estas coisas lá nos campos militares onde os treinam.
Incapaz de protestar sem perder a dignidade, acabei por o deixar sentar-se na minha frente e roubar-me uma azeitona.
Ainda fiz um esforço por tentar lembrar-me se lhe teria pago a renda. Antes de conseguir chegar a uma conclusão percebi que vinha em missão social.
Os velhos da praça disseram-lhe que passei a exibir uma expressão carrancuda e zangada. Que já não se ouve música das minhas janelas. Que vou despejar o lixo durante a noite para não ter que passar por eles. Que ganhei a guerra contra as mulheres que me espreitam para a sala condenando-me à bunkerização nas tardes de sábado.
Da vila, chegam-lhes notícias igualmente preocupantes. Diz-se que lá no meu trabalho já não me vêem passar pelos corredores com um sorriso imbecil na cara. Que quando entro na sala grande tenho um ar mal disposto e, por vezes, me esqueço de dizer bom dia. Que, ultimamente, os grandes textos encriptados que assino estão pejados de expressões como “personalidade desconforme às mais elementares regras sociais” e “falta de competências para uma normal vivência numa sociedade que se quer segura” e “imunidade absoluta aos efeitos das penas”.
Acabei de deglutir o porco preto em silêncio e não lhe expliquei que a génese do meu problema se situa algures entre o cansaço e a mentira.
Ele ficou a olhar para mim durante uns minutos e depois disse com um tom grave:
- Nunca serás capaz de nos compreender.
Fingi não reparar na ousadia da despropositada informalidade.
Sem querer, ele diagnosticou a minha doença.
Não se faz verdadeiramente parte de algo que não se apreende e eu nunca conseguirei compreender as infinitas limitações dos seres humanos.
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