Naquela primavera, sentados no cume de um monte, com a areia do deserto na boca e o sol a afundar-se no horizonte, Tagik, o berbere contador de estórias, através dos três ou quatro dentes que lhe restam, cuspiu um vaticínio horrível: chegaria o amor.
Como na morte de Samarcanda, como nos grandes espelhos atrás das costas, como nos pesadelos intermináveis dos mosquitos dos trópicos, foi casualmente encontrar-me no lugar onde estava melhor escondida.
Chegou o amor e tinha os seus olhos.
Por uma vez, experimentei pousar-lhe o sabre nas mãos ao invés de o arrecadar dentro do seu peito.
Vendi a pólvora e troquei o mar por um jardim de magnólias. Perdi há muito os livros da contabilidade. Desinteressa-me o valor do inevitável.
Nunca me pediu nada.
Nunca me perguntou nada.
Aperfeiçoou a manha de sherazaade, mantendo-me presa na primeira estória enquanto me guarda a mão direita.
Não voltei ao deserto. Não posso mais voltar ao deserto.
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