Uma vez a cada cinco anos, nem mais nem menos, deixo sair o deus menor da muito subterrânea cave onde o mantenho aprisionado. Liberto-o das correntes, retiro-lhe a mordaça, escovo-lhe as penas das asas e, desarmado de arco ou flecha, permito-lhe que se passeie pela sala, assome à janela e se sente num canto do sofá. Nåo autorizo que me olhe nos olhos; não o deixo tocar a sua música; não o perco de vista por um inteiro segundo.
As razões pelas quais lhe aligeiro o cárcere não são humanitárias. Eros é um deus, ainda que menor, é culpado e não se lhe aplica a comiseração que é devida aos homens. O ritual é um ato de fé. Se preferirem, de desesperançada esperança na reabilitação do prisioneiro.
Invariavelmente, durante um mais longo pestanejar, o deus menor, sem arma nem munições, ensaia uma tentativa de rebelião e acaba por me destruir a sala inteira.
Há um livro de poemas do Bukowsky que vai muito bem com este texto: Love is a dog from hell.
ResponderEliminarRecomendado a quem gosta de destruir (ou ver destruir) divisões da casa.
“only each time
ResponderEliminaryou think
well now I've learned:
I'll let her do that
and I'll do this,
I no longer want it all,
just some comfort
and some sex
and only a minor
love.“
Dessa mesma fonte. :)