segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

É preciso lembrá-lo todos os dias

A violência que nos rodeia parece extrema, mas na realidade vivemos vidas seguras, com pouco crime a atingir cada pessoa. Aliás, nunca se viveu com tanta segurança. Como diz um dos autores citados, Ian Morris, sacar de uma arma num bar tem sérias consequências. Em comparação com o passado, as pessoas de hoje nunca estiveram tão bem alimentadas, o grau de instrução da maioria é inédito e o indivíduo mais banal tem direito à justiça. As sociedades avançadas são democráticas e os cidadãos gozam de amplas liberdades. A saúde e a longevidade não têm paralelo com o que acontecia nas gerações anteriores e, no entanto, um pequeno surto de doença pode provocar um pânico. À luz de tantos indícios contrários, o pessimismo contemporâneo é quase incompreensível. Os nossos antepassados tinham vidas curtas, perigosas e sem grande esperança. Nós, pelo contrário, vivemos numa época em que as maiores incertezas são sobre a próxima ruptura tecnológica. E, no entanto, muitos julgam que o amanhã pode não ter aurora, torna-se até difícil defender o contrário, pois isso é considerado optimismo, sinónimo de imbecilidade e loucura.
In, Fragmentário, Luís Naves

6 comentários:

  1. Perspectiva pessoal irónica ou concordante, em relação aos corolários da citação? Ou o proverbial meio-termo?

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  2. Realmente ... Esqueci-me dessa parte. Vou ajeitar isto!
    Perspetiva absolutamente concordante. Nunca fomos tão infelizes e nunca vivemos tão bem.

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  3. penso haver entre meio a um milhão de portugueses que discordaria da segunda parte, seguidos de mais de metade da população mundial.
    não me parece exactamente "o pessimismo" mas a facilidade com que podemos manifestá-lo onde todos podem ver.
    deixou de ser o efémero lamento de paragem de autocarro entre desconhecidos, ou o ocasional grafiti anarquista.
    serei assim pessimista, lucubrando que a humanidade de hoje não se reconhecerá dentro de duas décadas. talvez isso seja magnífico, talvez seja trágico.
    Abraço, Cuca.

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    1. O elemento histórico está contra si. A humanidade de hoje é demasiado parecida com a do século XVIII para deixar de se reconhecer em apenas duas décadas.
      Quanto ao facto de se viver melhor agora, penso que o post se refere a um tempo geracional. É nesta medida que concordo com ele.

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    2. A tecnologia cara Cuca. Grande parte dos sociólogos esquece a tecnologia. O que torna as suas especulações tão interessantes quanto as estatísticas oficiais do desemprego em Portugal. Num futuro não muito longínquo poderemos vir a observar um fenómeno curioso: o de uma geração já nem sequer se reconhecer na seguinte.
      Ah, se as pessoas imaginassem aquilo que se passa na investigação talvez pensassem que regressamos à era dos mágicos. A história como extrapolação é irrelevante quando uma espécie inicia a transcendência de si própria. Talvez seja por isso que alguns lhe chamam singularidade.

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  4. Gostei tanto deste post que me apetece agradecer-te, Cuca. (eu não visitava o Fragmentário e portanto não o descobriria)
    Também estou nuclearmente de acordo. E tanto que poderia dizer sobre o tema!

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