quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Insónia

E depois a noite. 
À espera.
Para roer as partes mais cansadas do corpo. 
O silêncio a pesar na curva das pernas. As sombras a lembrarem-me que vias cães doentes pendurados no tecto quando te deitavas, 
assim, vazio de tudo o resto.
Lá fora, o jardim imóvel confunde-se com um cemitério.
 À espera. 
Aquela árvore sem folhas poderias ser tu, 
Empoleirado na minha janela a escarnecer da gravidade de um outro olhar que desiste.
Numa madrugada assim tudo se torna possível.
Até sentir a paz que te ficou do voo eterno em que te lançaste.
À espera. 
Enquanto a noite durar, evitar os espelhos.
E os tectos onde balançam animais doentes.
E o silêncio que esmaga os ossos cada vez mais pesados.
 E o jardim, lá fora, que se confunde com um cemitério. 
À espera. 



6 comentários:

  1. a cuca, a pirata desculpe-me, mas às vezes parece estar falando com quem a lê. devem ser as mágoas que, como são todas iguais, confundem os sujeitos.

    é do caralho. mas é bonito, muito bonito.

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    1. É como diz. As mágoas são todas iguais! Bem reaparecido. :)

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  2. e nós, que gostaríamos de escrever, apenas metade de ti
    À espera.

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