sábado, 8 de fevereiro de 2014

Diário de Bordo #9

O vício do jogo que esta tripulação apanhou no Mónaco foi debelado ao fim de três dias de clausura e umas quantas visualizações forçadas de um daqueles programas da tv cabo com homens de ar estranho e óculos de sol a jogar poker numa sala pouco arejada. 
Já o estado de pobreza em que nos deixaram, suspeito, demorará muito mais do que isso a sair-nos do corpo.
Neste navio outrora faustoso, vive-se agora no limiar da miséria.
Estamos fundeados ao lado da costa francesa sem dinheiro para combustível nem para taxas de marinas.    Gastei os últimos euros que tinha a comprar-lhes novas roupas para substituir aquelas que apostaram nas bancas improvisadas do jogo do bicho com que me envergonharam em Cannes. 
O papagaio, se não fosse emprestado e não tivesse já morrido, não passando de um espectro depenado, tê-lo-íamos comido ontem ao jantar. 
Ás queixas da tripulação perante a miséria do cardápio, sugeri-lhes que se inspirassem no tal do pescador que sobreviveu dezoito meses a água da chuva, gaivota, peixe e sangue de tartaruga. Achei que tivessem percebido a mensagem mas fui dar com eles reunidos à mesa a discutir se gaivota se deve fazer acompanhar por vinho branco ou tinto. Só os ex-presidiários e os poetas parecem pouco incomodados com a situação. 
Como medida desesperada decidi vender no OLX a Bimbi que nos tempos áureos comprei a Andhriminir, o cozinheiro Pirata, para lhe apaziguar a birra. Esperava protestos, mas até o sadismo do cozinheiro anda esmorecido e limitou-se a informar-me que passaremos a comer as algas cruas.
Com os duzentos e cinquenta euros que conto receber pela Bimbi espero conseguir comprar umas galinhas, uns coelhos, dois barris de rum e uma caixa de Lexotan. Estamos assim reduzidos aos bens essenciais.
Aqui fundeamos não temos condições para desenvolver a nossa atividade de terrores dos mares e saqueadores universais da humanidade. 
A situação é desesperada e o brainstorming diário só serve para gastar o pouco ferro que ainda temos no organismo.
Enviei uma carta ao Jack Sparrow.

3 comentários:

  1. Acabada de ter uma conversa sobre práticas de canibalismo, onde expliquei o pavor que crentes de outras religiões tinham primeiros cristãos pela acção da comunhão que consistia em " comer a carne e beber o sangue" , conversa que depressa descambou para o filme "Alive", dou comigo completamente aterrorizada pela ideia do que poderá a acontecer a bloggers rechonchudos que a bordo são praticamente peso morto... O Jack Sparrow também não é de fiar depois da interacção com os antropófagos no Dead Man's Chest... apreensiva... muito...

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    1. M D, nada tema...
      Lembre-se que esta sua capitã é mais temente ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem do que à peste negra. Já quanto à integridade dos nossos animais não prometo nada.

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    2. Mas lembro-me agora que o seu Omar, além de fantasma é também ele Pirata. Não vamos fazer sopa de Piratas, por isso, mais uma vez, "no passa nada"...

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