sábado, 8 de dezembro de 2012

Comprei um cão mas tenho uma explicação melhor do que a maioria das pessoas


As pessoas que têm poucos sentimentos apegam-se aos sentimentos que têm com a fúria do sedento no deserto que não está disposto a deixar que lhe roubem a última porção de água. A escassez no sentir faz com que o sentimento se autonomize do seu objeto fundamento e ganhe um valor em si próprio. Nessa altura, o objeto perde toda a relevância porque a única coisa que interessa é o sentimento de que é pretexto.
Tive que perceber isto para compreender as razões pelas quais falharam e continuarão a falhar todas as minhas tentativas de eliminação de um certo afeto que eu já não quero carregar.
Se o processo não tem em vista a destruição do objeto mas antes a destruição do sentimento está mais próximo do suicídio do que homicídio. Eu concebo já aqui, sem pensar muito, três ou quatro situações que me levariam ao homicídio. Não concebo nenhuma que me levasse ao suicídio.
Se eu fosse apenas racional, era nesta altura que desistiria de me livrar do sentimento que me atormenta e me renderia a uma existência de sofrimento.
Mas além de racional eu sou pragmática.
A mesma lógica que revela a minha incapacidade de destruir o sentimento põe a nu a irrelevância do objeto.
Ora, se o objeto só interessa enquanto fundamento do afeto, pode ser substituído em qualquer altura porque o cérebro deixa-se enganar por um bom sucedâneo. 
E foi assim que percebi que comprar um cão é mais eficaz do que continuar a ler a Moby Dick.
Isto tudo para avisar que, a partir do dia 20 de dezembro, este blogue atingirá mínimos históricos de qualidade. Pior que um babyblog só me ocorre mesmo um doggyblog.

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