sábado, 6 de agosto de 2011

Odeio o amor

Gloria Victis, de Antonin Mercié



“Em resumo, nos termos do filósofo francês Gilles Deleuze: Si vous êtes pris dans le rêve de l’autre, vous êtes foutu (“quem se deixa apanhar pelo sonho do outro, está lixado”); ou como Neil Gaiman, o autor do romance de banda desenhada The Sandman, escreveu numa passagem memorável:
Estiveste alguma vez apaixonado? É horrível, não é? fica-se tão vulnerável? Ficas com o peito e o coração abertos e outra pessoa pode entrar dentro de ti e revolver-te por dentro. Constróis todas essas defesas, constróis uma armadura que te cobre de alto a baixo para que ninguém te possa ferir, e depois uma pessoa estúpida, igual a qualquer outra pessoa estúpida, atravessa-se na tua estúpida vida… Dás-lhes um bocado de ti. Não to pediram. Fizeram um dia uma estupidez qualquer, como beijar-te ou sorrir-te, e a tua vida deixou daí em diante de ser tua. O amor faz reféns. Entra dentro de ti. Come-te e deixa-te a chorar no escuro, e é assim que uma simples frase do tipo “talvez devêssemos ser só amigos” se transforma num estilhaço de vidro que te vai direito ao coração. Dói. Não é só na imaginação. Não é só mental. É uma dor da alma, uma dor real que te invade e te rasga e te parte. Odeio o amor.”


Slavoj Zizek, in Violência, Relógio de Água

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