segunda-feira, 8 de julho de 2019

Detalhes da vida doméstica de uma Pirata desembarcada

O mar ainda me corre nas veias e as ondas balouçam-me nos ouvidos, mas debaixo dos nossos pés há já longos dias que só há terra. 
A velha chaise long do convés vive agora num burguês jardim de magnólias, daqueles que combinam pérgolas com barbecues e é deitada nela que, nas horas lentas, confirmo a superioridade literária dos russos. Num dos baús, trouxe Polly, o papagaio pirata, que agora se balouça feliz e sedentário no topo de uma yuca.Trouxe também a velha bandeira que o Capitão Strut me deixou pendurar num daqueles veleiros de betos que, noutros tempos, não hesitaria em bombardear. 
Quando o Capitão Strut quis saber do meu índice de felicidade, lamentei-me pela falta das estrelas, assassinadas nas luzes das cidades. Strut saiu por dez minutos e regressou com uma caixa de luzes comprada nos chineses. Tenho uma constelação instalada no céu deste jardim e devo dizer que nunca Orion me pareceu tão verdadeiro. 
Aprendi, também, que ao contrário do mar, que por natureza é um caminho, a terra, esse destino, dá-se em pertença. 

6 comentários:

  1. (espero ansiosamente pela parte em que contas sobre as tuas dores nas cruzes e os bingos no Belenenses)

    :)

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    Respostas
    1. Sua pequena víbora espinhosa...
      é assim que me recebes?
      Não admira que todos os delinquentes voltem ao seu passado criminoso logo que reencontram o gang!

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    2. Ahahahahah!

      Que queres? Adoro arreliar reformados....

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    3. (post com o patrocínio das Residências Montepio :DDDDDDDDDDDD)

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    4. Uma pobre pessoa ressocializa-se e é isto!!

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  2. Bem vinda à terra...mas que continue a ver as estrelas e se chegue de quando em quando à beirinha do mar, olhando os navios.
    ~CC~

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