sábado, 27 de setembro de 2014

Ao espelho



Espelho

Sou de prata e exata. Não tenho preconceitos.
Absorvo imediatamente tudo o que vejo, tal como é,
Limpo de amor ou desgosto.
Não sou cruel, apenas verdadeira- 
O olho de um pequeno deus, de quatro cantos.
A maior parte do tempo medito de encontro à parede.
É rosa, com manchas. Olhei-a tanto
Que penso que já faz parte do meu coração. Mas desvanece-se. 
Rostos e escuridão separam-nos uma e outra vez. 

Agora sou um lago. Uma mulher curva-se sobre mim,
Procurando no meu leito por aquilo que realmente é. 
Então, volta-se para essas mentirosas, as velas ou a lua. 
Vejo-lhe as costas e espelho-as fielmente. 
Ela recompensa-me com lágrimas e com a tremura nas mãos.
Sou importante para ela. Vai e vem.
Em cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão. 
Dentro de mim afogou uma menina e dentro de mim, dia após dia, uma velha ergue-se sobre ela, como um peixe terrível. 

Sylvia Plath 
(Tradução minha)

MIRROR

I am silver and exact. I have no preconceptions.
Whatever I see I swallow immediately
Just as it is, unmisted by love or dislike.
I am not cruel, just truthful -
The eye of a little god, four cournered.
Most of the time I meditate on the opposite wall.
It is pink, with speckles. I have looked at it so long
I think it is a part of my heart. But it flickers.
Faces and darkness separate us over and over.

Now I am a lake. A woman bends over me,
Searching my reaches for what she really is.
Then she turns to those liars, the candles or the moon.
I see her back, and reflect it faithfully.
She rewards me with tears and an agitation of hands
I am important to her. She comes and goes.
Each morning it is her face that replaces the darkness.
In me she has drowned a young girl, and in me an old woman
Rises toward her day after day, like a terrible fish.

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