sexta-feira, 2 de abril de 2010

Notícia da semana: O FAD


Foi produzido um novo vício. E não se encham de entusiasmo os coraçõezinhos dos nossos eventuais leitores toxicodependentes. Não é um novo químico. Nem sequer é uma combinação de dois velhos químicos. Não se ingere, não engorda, não provoca Avcs, não é cancerígeno e nem sequer nos faz gastar todo o dinheiro da família.
Na nossa sociedade bem comportadinha existem gabinetes ocupados por uns senhores criteriosamente penteados, com umas batas brancas omicamente limpas, em redor de uns instrumentos esquisitos chamados normalómetros. Estes senhores usam os seus instrumentos para medir os nossos padrões de normalidade. Fazem gráficos comparativos e extraem conclusões. Tudo o que passe a linha definida pelo normalómetro faz disparar o terrível alarme social do excesso, assim se produzindo um novo vício.
O último grito dos vícios, num mundo em que já é banal ser-se drogado, bêbado, fumador ou jogador, é o aparentemente pacífico Facebook. E o vício já tem nome e tudo: chama-se FAD, que é como quem diz Facebook Addiction Disorder.
Da próxima vez que actualizarem o vosso estado, postarem umas fotografias, informarem o mundo de que gostam, ou comentarem as mensagens dos vossos amigos, saibam que a vossa motivação verdadeira pode não ser o facto de terem um emprego chatíssimo, excesso de tempo livre ou vontade de poupar dinheiro em telemóvel. Na sombra espreita-vos o monstro da adição que, por enquanto, ainda só se consegue assassinar em clínicas nos Estados Unidos da América. Portanto, já sabem: sempre que os vossos dedos começarem a tremelicar na direcção do botão do “publicar”, afastem-se rapidamente dos vossos computadores, dirijam-se até à porta, certifiquem-se que já estão na rua e acendam um cigarro. Esses quatro minutos de alcatrão podem salvá-lo do monstro do vício do Facebook. E parecendo que não, sempre é mais fácil comprar uma caixa de pastilhas de nicotina do que ir aos States matar o novo monstro.
Por outro lado, quando receberem convites de amigos, consciencializem-se que se os adicionarem podem estar a criar um pequeno viciado ou a alimentar a adição de um desgraçado entregue às garras do monstro. Como tal, organizem imediatamente uma intervenção na casa desse agarrado e levem-lhe várias garrafas de vinho. Em alternativa, podem convidá-lo para um serão no casino.
Os senhores cientistas dos normalómetros já se ocuparam de definir os parâmetros de utilização dos telemóveis, dos automóveis, da televisão, da rádio e da frequência dos shoppings e dos ginásios. E claro, o sexo! Tudo perigosas actividades aditivas! Em estudo está o consumo de pastéis de nata, das bolas de Berlim, da observação das montras e das idas ao oceanário de Lisboa.
Agora vou ali num instante colher o leite das vacas, semear uns girassóis, carregar dez vezes no gosto, aderir a um grupo parvinho e já volto.

2 comentários:

  1. já agora, enviar comentários para blogs também conta?

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  2. Essa parte ainda está a ser estudada. Os senhores dos normalómetros trabalham devagar.

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