terça-feira, 13 de abril de 2010

Nostalgias


Esta noite uma insónia horrenda atirou-me para o passado fazendo-me carpir por tudo aquilo que não fiz.
Invadiu-me uma nostalgia a atirar para a agonia, intensificada pelo facto de serem quatro da manhã, de me ter deitado perto da uma com uma enxaqueca monstra e, por isso, não ter adormecido de imediato; e ainda por saber que o despertador iria implacavelmente fazer-me sair da cama às sete e um quarto da manhã.

Eu que deitei mão a tudo quanto foram oportunidades para desbravar mundos novos, que venho ao longo dos anos acumulando funções (profissionais, familiares, domésticas, sociais, artísticas, culturais e desportivas, ecc) aparentemente inconciliáveis, com uma carga horária sobrehumana, as mais das vezes com kilometros e kilometros pelo meio;
Eu que fiz todas as minhas escolhas de forma livre e consciente, e alcancei todas as metas a que me propus;
Eu que tenho um marido que me adora, que eu amo, e com quem venho construindo uma família linda, deu-me para as nostalgias do que não fiz.
Dos caminhos que não percorri. (Sou aquela que gulosamente escolhe o prato mais saboroso do menú e depois fica a cobiçar a comida do vizinho.)
Não fosse eu a verdadeira idealista, eterna insatisfeita, sedenta de vida e acontecimentos.

Assim não fosse e não teria, há cerca de dois anos, virado a vida de pernas para o ar, voltado à escola e ao estupor das avaliações, e embarcado num projecto de vida diferente.
Aquele que há 18 anos todos me adivinhavam e que eu dizia não querer.

Deu-me para lamentar as aventuras que não vivi, porque aquelas que irei recordar pela vida fora, assim me permita o alzheimer, essas não contam. Já foram.
Lamentei as loucuras que não cometi, os homens a quem não me entreguei, aqueles a quem me entreguei e que me atiraram para os ansiolíticos e as benzodiazepinas à conta das quais arruinei a porta do carro, aqueles que me desejaram em silêncio e nunca me tiveram.
Lamentei ainda ter-me estruturado de uma forma que me impediu ousar viver de forma mais ligeira, sem preocupações, e inconsequente até. Só para evitar os disparates da juventude.

Agora que por força das actuais e futuras circunstâncias, o peso das minhas acções vai estar sempre à espreita, o terror dos disparates que não fiz antes agonia-me. Hoje, pelo menos.
Porque só mais tarde percebi que não se tem 20 anos e a vida por nossa conta para sempre. E que a vida não pode ser adiada. Que não há um "mais tarde é que vai ser a sério e agora não convém".

Em rigor, este post deveria ser colocado noutro lado, mas esta inelutável tendência é mais forte que eu. E hoje deu-me para aqui.

"Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje". Sempre me disse o meu pai. Ironia das ironias...

7 comentários:

  1. Se tivesses feito tudo o que não fizeste, irias querer fazer aquilo que acabaste por fazer. É a eterna insatisfação aquilo que nos move. Nunca nada é suficiente. Nunca estamos satisfeitos. Mas olhar para trás, é um risco que poucos de nós estamos disposto a correr, com receio de não aguentar com as consequências. Gabo-te a coragem.

    SA

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  2. Pois é. É tanto assim que nem sequer se coloca a questão de ter preferido não ter feito o que fiz. É simplesmente a de fazer o que fiz, acrescido do que não fiz.

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  3. "fazer o que fiz, acrescido do que não fiz"- entras numa espiral sem retorno. A quantidade de coisas que queremos fazer é sempre muito superior ao tempo que dispomos para as poder fazer. Só tens uma hipótese, e não mais do que uma hipótese: fazer escolhas.

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  4. Minha querida, é verdade que não se tem 20 anos para sempre mas terás que aceitar que nós aos 20 anos não tínhamos metade da graça!

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  5. (...) "não se tem vinte anos...", pois não querida, temos mais uns quantos de magia!
    Ainda bem que não vejo na lista nada tipo saltar de paraquédas!
    Eu não queria ter 20 anos de novo.
    Mas eu não sou exemplo para ninguém; eu já nasci velha ;)

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  6. Ora...eu queria saltar de para-quedas! desde que me deixem aterrar de saltos altos, claro!

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