segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Identificação Olfativa


Às vezes a vida prega-nos rasteiras tão inesperadas que a única forma de aliviar o estrondo da queda passa pela auto-recriação.
Ao contrário do que se possa pensar, não há nada de errado em recriar um sistema que substitua um outro que está obsoleto. Na natureza, os animais fazem-no continuamente sem que os David Attenborough da vida andem para aí a apontar-lhes o dedo, alegando que deveriam ter preferido morrer a criar asas. Ou a deixar de as ter.
Os processos de auto-recriação em pessoas relativamente determinadas são fáceis, rápidos e eficazes. Mas precisam de um bom perfume. Uma constante e discreta presença que as lembre que não são um mero avatar de si próprias.
E foi assim que o facto de se ter tornado impossível adquirir o meu perfume em Portugal se transformou numa tragédia existencial com contornos niilistas.
Há mais nostalgia naquele momento em que saí da água fria da piscina e reencontrei o meu cheiro na toalha de praia usada do que no último encontro com algumas das muitas pessoas que já perdi.
De onde sou forçada a concluir que, ao contrário do que acontece com as pessoas, os cheiros, pela intensa capacidade de entranhamento, podem tornar-se absolutamente insubstituíveis.

3 comentários:

  1. Concordo: os cheiros trazem memórias instantâneas... De repente vais na rua, vem-te aquele cheiro e tu de imediato dizes: foda-se este cheiro é igualito ao da casa da minha avó, ou à camisa do João...

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  2. Capitu, confesso que quando li "de repente vais na rua, vem-te aquele cheiro"...temi que isto acabasse em caca de cão.

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  3. Looooooooooool! andou perto, mas desviei-me.

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