A humanidade foi amaldiçoada com o terrível gene da submissão.
Quando só tínhamos que nos preocupar em arranjar comida, sobreviver aos invernos, acasalar muito e atingir a satisfatória esperança média de vida de trinta anos, a nossa maldição genética levou-nos a inventar deus em troca da cobarde sensação de podermos dormir à noite convencidos que há alguém a mandar em nós.
E quando, finalmente, conseguimos dominar o meio ambiente, criar uma panóplia de instrumentos para combater o tédio, ter a vontade e os meios para viver até aos cem anos, a paciência e o tempo para criar a arte e abertura de espírito para colocar os preconceitos na lista das espécies em vias de extinção, o que fizemos nós?
Em vez de brindarmos ao hedonismo com Moet & Chandon servido nos melhores copos de cristal italiano, decidimos criar uma nova forma de escravidão:
A felicidade!
Ser-se feliz é mais do que uma obsessão à escala planetária. É a missão das missões impingida ainda no ventre. Antes, quando se perguntava a uma grávida se queria um filho macho ou fêmea, se ela fosse minimamente bem formada, responderia que só queria que nascesse perfeito. Agora dizem logo que tem é que ser feliz.
Já não basta nascer inteiro e sem doenças mentais evidentes. Desenganem-se os que pensam que é suficiente ser magra, loura, bonita, bem sucedida e ter um carro topo de gama.
É obrigatório ser-se feliz. Os infelizes, não lhes bastando o seu estado, ainda têm que carregar a sombra da incompetência na gestão da sua vida. Os olhares desdenhosos dos felizes a escrutinar responsabilidades no estado de alma misérico.
A infelicidade é a nova lepra que se esconde para não chocar e de que foge para não contagiar. Existem estudos que a explicam, comprimidos que a encolhem, métodos complexos que a tratam.
Se não temos cuidado ainda alguém se lembra de inventar sanatórios para internar os infelizes, transformando o mundo num campo verdejante enfeitado por sorrisos pepsodent, com uma enorme gargalhada como música de fundo.
A felicidade transformou-se numa tarefa doméstica tão estúpida como fazer a cama.
Digam não à submissão ao mito do milénio. Sejam infelizes todas as vezes que vos apetecer durante todo o tempo que conseguirem. Façam amizade com os kleenex, orgulhem-se dos vossos narizes feridos, cultivem o mau-humor.
E queixem-se. Queixem-se muito.
Cuca
Quando só tínhamos que nos preocupar em arranjar comida, sobreviver aos invernos, acasalar muito e atingir a satisfatória esperança média de vida de trinta anos, a nossa maldição genética levou-nos a inventar deus em troca da cobarde sensação de podermos dormir à noite convencidos que há alguém a mandar em nós.
E quando, finalmente, conseguimos dominar o meio ambiente, criar uma panóplia de instrumentos para combater o tédio, ter a vontade e os meios para viver até aos cem anos, a paciência e o tempo para criar a arte e abertura de espírito para colocar os preconceitos na lista das espécies em vias de extinção, o que fizemos nós?
Em vez de brindarmos ao hedonismo com Moet & Chandon servido nos melhores copos de cristal italiano, decidimos criar uma nova forma de escravidão:
A felicidade!
Ser-se feliz é mais do que uma obsessão à escala planetária. É a missão das missões impingida ainda no ventre. Antes, quando se perguntava a uma grávida se queria um filho macho ou fêmea, se ela fosse minimamente bem formada, responderia que só queria que nascesse perfeito. Agora dizem logo que tem é que ser feliz.
Já não basta nascer inteiro e sem doenças mentais evidentes. Desenganem-se os que pensam que é suficiente ser magra, loura, bonita, bem sucedida e ter um carro topo de gama.
É obrigatório ser-se feliz. Os infelizes, não lhes bastando o seu estado, ainda têm que carregar a sombra da incompetência na gestão da sua vida. Os olhares desdenhosos dos felizes a escrutinar responsabilidades no estado de alma misérico.
A infelicidade é a nova lepra que se esconde para não chocar e de que foge para não contagiar. Existem estudos que a explicam, comprimidos que a encolhem, métodos complexos que a tratam.
Se não temos cuidado ainda alguém se lembra de inventar sanatórios para internar os infelizes, transformando o mundo num campo verdejante enfeitado por sorrisos pepsodent, com uma enorme gargalhada como música de fundo.
A felicidade transformou-se numa tarefa doméstica tão estúpida como fazer a cama.
Digam não à submissão ao mito do milénio. Sejam infelizes todas as vezes que vos apetecer durante todo o tempo que conseguirem. Façam amizade com os kleenex, orgulhem-se dos vossos narizes feridos, cultivem o mau-humor.
E queixem-se. Queixem-se muito.
Cuca
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