Foi há muitos anos, num telhado de Lisboa.
Estavam sentados na beira, com os pés descalços, a abanar sobre o abismo. Ele tirou-lhe o copo da mão e entregou-lhe o telescópio.
Enquanto ela apontava à lua, ele disparou:
- há muito anos que te amo.
Por trás do telescópio ela ficou calada a assistir às imagens da existência que teriam tido se fosse verdade e se o tivesse percebido a tempo.
Quando o olhar dela tombou sobre o dele o silêncio iluminou uma estrela que nasceu morta.
Se ele se tivesse achado digno de ser aceite por ela há muitos anos atrás, talvez ela, muitos anos à frente, ainda tivesse dignidade suficiente para o poder aceitar.
Foi há muitos anos.
Antes de terem demolido os telhados de Lisboa.
Algures en Tlon, Uqbar, Orbis Tertius, Borges cita um suposto heresiarca: "El texto de la Enciclopedia decía: Para uno de esos gnósticos, el visible universo era una ilusión o (más precisamente) un sofisma. Los espejos y la paternidad son abominables (mirrors and fatherhood are hateful) porque lo multiplican y lo divulgan."
ResponderEliminarO mesmo se aplica, diria, aos telescópios, porque multiplicam também o número de entidades, e tornam mais ilusório ainda o ilusório universo.
Caleidoscópios são galáxias de cores, são miragens, são enganos... São os aceleradores de partículas de decepção.
ResponderEliminar