Escolhi uma noite sem lua nem
estrelas. Por ser para ti, usei o meu melhor vestido de seda cinzenta e calcei
uns sapatos prateados. A hora era aquela em que o mundo é entregue aos insones
e aos desesperados e as praias são cantos esquecidos de existência. Cheguei contigo
pela mão absortos no silêncio e na escuridão total. Para que a música não me
distraísse dos batimentos do coração. Para que com a luz não viesse a sombra e
nela a denúncia da demência no reflexo onde tu não aparecerias.
Apertei-te a mão com mais força
quando entrámos no mar gelado e fomos varridos pela primeira onda de noite e
vazio e escuro e nada. Deixei-me enrolar na turbulência e afundar e emergir. Nadei
até ao limite das minhas forças na direção de coisa nenhuma. Reconheci a
derrota para o mar e negociei o preço da minha vida.
O mar deixou-me fazer a viagem de
regresso da escuridão.
Apenas para voltar à praia. Nua e
de mãos vazias.
Talvez, ao fundo, houvesse um
barco a afastar-se na direção da linha do horizonte.
Nunca o saberei. O preço que paguei pela minha vida foi a promessa de não olhar para trás.
Nunca o saberei. O preço que paguei pela minha vida foi a promessa de não olhar para trás.
és tu, não és? está escuro, não vejo bem.
ResponderEliminarés tu, és. e apareces muito fodível - "estás bonita".
andas não sei por onde, com não sei quem, a fazer não sei o quê. faço de conta que não quero saber, mas tenho o menino atrás dos olhos. e nota-se.
dá-me lá os teus ímanes de cinco varetas. estou desmagnetizado, pelo que agarra.
na água somos sempre balanço. a onda que vertes é aquela que te acorda contra a praia. os repelões do mar são assim. eu provoco o refluxo e afasto-me da costa. também é assim.
ficas com aquele olhar de menina bem-comportada, sem vincos. mas tens o queixo engelhado de verdades.
olhas sempre para trás, nem que seja com a nuca. eu é que olho sempre para a frente, mesmo quando estou a olhar para trás. fugir é assim, rapariga, vê se aprendes. aprende com quem sabe, que eu duro sempre.
É. Fugir é assim.
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