Quando me perguntaram onde queria mesmo estar, lembrei-me do gesto matinal de abrir uma pesada janela branca com vista para um pasto que se estende até ao mar. E de um mundo desenhado a verde e a cinzento. Um verde e um cinzento que não voltarei a ver em qualquer outro canto do universo. Lembrei-me de ganhar intermináveis horas com os olhos pousados nos movimentos lentos de um barco de pesca. Contei todos os por-do-sol a que assisti e foram tantos. Lembrei-me da lua a dançar sobre a areia da praia que ia sendo engolida pelo mar até só ficarem as pedras cinzentas. E do som das ondas na escuridão daquelas noites que os homens se esqueceram de iluminar. Pensei na varanda onde nos sentávamos para assistir a Orion e sentíamos as constelações como uma aventura cinematográfica. E no cheiro da terra depois da chuva que caia sempre à mesma hora. E na lentidão dos gestos em que fervíamos o amor. Como se o cozinhássemos no forno grande da cozinha de pedra, em cuja chaminé os pássaros vieram fazer o ninho.
Depois respondi que queria mesmo estar em Nova Iorque, no terraço do mais alto dos arranha céus.
Talvez não tenha mentido. Não há nenhum sentido em querer estar-se no sítio de onde nunca se conseguiu sair.
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