Entre um semáforo que ficou vermelho e um pensamento que tardou em auto-dirigir-se para o interior da caixa de vácuo, vi os meus pés nus ao lado dos teus calçados de havaianas de cores diferentes a baloiçarem no abismo da montanha.
Lá em baixo o mar a ensinar-nos histórias de separação, a nós dos outros, primeiro, um do outro, por fim.
Devíamos ter dez anos que é a idade em que o coração deixa gosto na boca e o sol a arder na face não queima mais que um olhar enviesado e o amor se consuma numa união de dedos.
Tivemos sempre dez anos.
Como o poderiam testemunhar o búzio no bolso das tuas calças e os meus desenhos espalhados pelo chão.
Entre nós e o mar, um tapete feito de azáleas hoje transformado no sudário com que nos cobrimos.
Ainda os teus pés a baloiçarem no abismo e depois o verde do semáforo e a caixa dos pensamentos proibidos a fechar-se num clique que atravessou o mar, ecoou na montanha e assustou a borboleta que se atravessou no teu olhar.
Tivemos sempre dez anos.
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